Profa. Dra. Maria Helena Pires Martins
http://www.brasilcultura.com.br/conteudo.php?menu=90&id=1242&sub=1304
Profa. Dra. Maria Helena Pires Martins
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O conceito de cultura varia de acordo com os determinados ramos do conhecimento humano. Citaremos alguns deles:
Para as Ciências Sociais, cultura é o aspecto da vida social que se relaciona com a produção do saber, arte, folclore, mitologia, costumes, etc., bem como à sua perpetuação pela transmissão de uma geração à outra.
Para a Sociologia o conceito de cultura tem um sentido diferente do senso comum. Sintetizando, simboliza tudo que é apreendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo de pertença. Na sociologia não existe culturas superiores, nem inferiores, pois a cultura é relativa, designando-se em sociologia por , relativismo cultural. Assim a cultura do Brasil, não será igual a cultura portuguesa: existem maneiras distintas de se vestir, de se comportar, maneiras diferentes de agir, crenças diferentes, valores, normas, ou seja padrões diferentes de cultura.
Para a Antropologia a cultura é a totalidade de padrões aprendidos e desenvolvido pelo ser humano.
Para a Filosofia cultura é um conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou o comportamento natural.
No entanto nós nos apropriamos da seguinte definição:
"Cultura pode ser entendida como uma área de estudo da antropologia referente à humanindade, como todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Por isso defendemos a idéia de que não existe nenhuma sociedade sem cultura. Na nossa concepção esta diz respeito a tudo que caracteriza uma realidade social, a existência social de um povo, de uma nação, ou de grupos que fazem parte da sociedade."
A Praça Luis Nogueira constitui um espaço diferenciado que pode ser interpretado por diversos vieses. Numa análise mais aprofundada da dinâmica da referida praça, podemos entender ela como um lugar vivido, como lugar controlado, além de ser constituído de micro-territorios. Durante o dia ela possui uma dinâmica própria, nota-se a presença de vendedores ambulantes, motociclistas, aposentados, transeuntes. Ela é para uns indivíduos o lugar de trabalho , o lugar vivenciado, de "garantia do pão" e do sustento da família. Exemplificamos aqui, os vendedores de cachorro-quente, de churrasquinho, de paste, os motoboys, o vendedor de picolé, e tantos outros que utilizam a praça como ponto do seu comercio ou divulgação do seu trabalho. Para outros a praça é o lugar do lazer, do bate-papo com os amigos, o lugar do namoro, o ponto de encontro, para exemplificar essa realidade, temos a "a galera jovem" que utilizam a praça como o local de diversão, bem como as crianças que freqüentam o parquinho da praça. A noite a praça ganha novos contornos: se diurnamente aposentados comerciantes e transeuntes ocupam praça, a noite ela fica "habitada por adolescente e casais de namorados, que são muitas vezes atraídos pelas barraquinhas de acarajé, churrasquinho, beiju, ela é pois nesta perspectiva um lugar praticado.
Dando ênfase a uma análise geográfica podemos perceber que algumas territorializações são construídas nesta praça: nela observamos o território dos motociclistas, o território dos passageiros do ônibus que transportas pessoas para o bairro da cidade nova, o território dos vendedores de pasteis, o território dos aposentados, dos jovens. Estes territórios podem muitas vezes encontrar-se superpostos ou se desfazer de acordo com a ordem cronológica, por exemplo: os aposentados que se territorializam na praça, utilizam bancos próprios, se reúnem para o bate-papo da manha, o jogo de damas ou cartas, especialmente diurnamente. Já os adolescentes também territorializam este espaço, porém estes o fazem durante a noite, e se ocupam de bancos próprios se diferenciando dos outros grupos, podemos perceber e distinguir ai, o território da galera que curte rock, dos jovens evangélicos, dos que curtem pagode, cada grupo marcados por suas características próprias e bastante definidas.
Deste modo julgamos ser a Praça Luis Nogueira um lugar de diferentes tessituras e arranjos, constituindo um espaço vivenciado, um lugar praticado.
A CURA DE OUTRORA I
Antigamente meu povo
Na natureza se achava
Remédio pra todo mal
No mato se procurava
A nossa avó com cuidado
Com as raízes curava.
Eram raízes e folhas
Cascas e flores também
E tudo era preparado
Pronto pra fazer o bem
Tomado com muita fé
Era só dizer Amém.
Hortelã folha miúda
Na AFTA podia usar
Ou a alfazema braba
Você não vai duvidar
Os dois em forma de chá
Pra bochechar e tomar.
Na folha da pitangueira,
Também na forma de chá
Um remeidão pra AMEBA
Você pode acreditar
E também coroa de frade
Fazia ameba acabar.
Tinha chá de vassourinha
Pra sua BRONQUITE curar
Ipepaconha, agrião
Outros se podiam usar:
Mastruz com leite ou angico
Eucalipto e mangará.
Pra curar AMIGDALITE
Era chá de aroeira
Também cajueiro roxo
Nada disso era asneira
O que pra muitos era cura
Hoje pra uns é besteira.
CATARATA, eu alcancei,
Cenoura crua ralavam
Com o suco de limão
As pessoas colocavam
Nos olhos com muita fé
Dizendo que melhoravam.
COLESTEROL, muita gente
Oliveira roxa usava,
O chá da folha diziam
Com certeza se tomava
E suco de tamarindo
Que no terreiro encontrava.
Pra CALMANTE era mais fácil,
Muita coisa se ensinou
Tinha suco e também chá
Do maracujá se provou
Com folha da laranjeira
Muita gente se acalmou.
Pra história do CALO SECO
Você não vá se espantar
Água morna era boa
Com cebola pra esfregar,
Cebola branca e cenoura
Na água pra mergulhar.
Uma coisa interessante
Boa pra CÁLCULO RENAL:
Chá do rabo de raposa
Que era uma planta banal
E raiz da quebra pedra
Diziam também ser legal.
Para CÓLICAS NO FÍGADO:
Chá da folha do melão,
Melão de São Caetano
Não é o de comer não
Na região nordestina
Encontramos de montão.
E na CÓLICA MENSTRUAL
Que à mulher vem incomodar
É bom pra bem no período
Antes e depois usar
Hortelã, folha miúda
Ou botão de rosas, um chá.
Pra COCEIRA, meus amigos,
Que de Sarna hoje chama,
Fazer o chá da entrecasca
Do cajueiro era fama
E com folha do melão
São Caetano, não engana.
Sumo de alho picado:
Dizia-se pra DOR DE DENTE
Deixar no local doído
Usar nem frio nem quente
E assim curaram a dor
Do dente de muita gente.
Agora pra DOR DE OUVIDO:
Algodão umedecer
Com sumo do alho ou da folha
Manjericão e aquecer
Pra colocar no ouvido
Experimente pra ver.
Olha só, DOR DE CABEÇA
Se curava de montão
Erva cidreira, hortelã
Folha miúda, pois não,
Folha de mamão de corda
Tudo pra chá, meu irmão.
Pesquisei pra DIABETES
O que era de assombrar
Coalhada com um limão
Ensinavam pra tomar
Meio copo em jejum
E ninguém ia duvidar.
Para GASTRITE, meu povo
Uma eu vou lhe dizer
Era um remédio bem bom
E fácil de se fazer:
Suco de couve ou batata
Inglesa, pra entender.
O chá da folha da pinha
Era no ensinamento
Usado para HEMORRÓIDA
Mais um banho de assento
Duma baba de babosa
Quando houvesse sangramento.
E para aquele PIOLHO
Que nos vinha atormentar
Folha de arruda usavam
Para o cabelo lavar
Tinha que ser chá bem forte
Para o piolho matar.
Aqui eu vou encerrar,
Mas outros vou escrever
Aguarde o que vem depois
Não vá se surpreender
Na cultura popular
Tem muito o que a gente ver.
Eu pesquiso sempre, sempre
Para informação buscar
Quero mostrar pra vocês
Tudo o que eu encontrar
Com relação aos remédios
Eu sempre vou divulgar.
Não quero neste cordel
Incentivar o leitor
A desprezar a medicina
E não procurar um doutor,
Mas nossa sabedoria
Não esqueçamos, por favor
Autora: Mª Nelcimá de Morais Santos
Disponível em: http://www.ablc.com.br/cordeldavez/cordeldavez.htm
A Terra antigamente,
Muito antes de Pompéia,
Diferenciava muito
Da nossa atual idéia,
Em continentes colados
Denominados Pangéia.
A África e América
Do Sul, aqui no Brasil,
Distanciaram no tempo
Depois que tudo expandiu
Formando nosso planeta;
E a crosta assim dividiu.
A raça humana foi
Do continente africano
Originária primeiro,
Disso ninguém tem engano;
Seu sangue corre nas veias
De qualquer um ser humano.
O europeu na ganância,
Saiu do seu continente
Escravizando os povos,
Se achando inteligente,
Ignorando que os negros
Foram a origem da gente.
Então se estabeleceram
Para futura empreitada,
Conquistando o litoral
Com sua forte armada,
Desbravando matas virgens
Que ia sendo cortada.
Precisavam mão-de-obra,
Trazendo então prisioneiros;
Da África vieram os
Grandes navios Negreiros
E nas viagens sofridas
Poucos chegaram inteiros.
Com a grande escravatura
E o vil comércio humano,
Condições desrespeitosas
Sob um jugo tirano,
O negro zarpou pras matas
Em bandos a cada ano.
Os escravos brasileiros,
Muitos vindos de Angola,
Sofriam sérios maus-tratos,
Desconheciam escola;
Fugiram para formar
Uma nação quilombola.
Eram quarenta escravos
muito bem amotinados
Num engenho em Porto Calvo,
Onde outros confinados,
Assassinaram feitores
E correram apressados.
Escaparam para a Serra
Da Barriga e deixaram
A casa grande queimada;
Quarenta dali zarparam
Dando início aos quilombos,
Onde se multiplicaram.
Já no século XVII,
O quilombo dos Palmares
Tinha organização,
Ruas, engenhos e lares,
Fundindo religiões
Que dividiam altares.
Não tinham somente a caça
Como fonte de alimento;
Dominavam a agricultura,
Todo seu procedimento,
Milho, batata, feijão
E talvez um condimento.
Sem haver segregação,
Acolhiam os oprimidos;
Negro, mestiço ou branco
E todos os foragidos
Aumentavam os quilombos
E ficavam agradecidos.
O roubo e deserção,
Homicídio e adultério,
Eram punidos com o
Ingresso pro cemitério
Do elemento que não
Levasse isto a sério.
Sua comunicação
Fora toda misturada;
Português e Africano
O Índio também falava;
Fundindo então os três
A compreensão se dava.
O quilombo era de
Cidades constituído,
Talvez dez, vinte ou trinta,
Totalmente guarnecido,
Sendo cada cidadão
Guerreiro bem instruído.
Não demorou muito pra
Serem então perseguidos
Por grupos de portugueses,
Com índios fortalecidos;
Mas estes decepcionados,
Voltavam muito abatidos.
Quando chegou nos mocambos
Ganga Zumba unificou
A força dos povoados
E líder ele tornou,
Ganhando poder força
Que bravamente honrou.
Em 1630,
Por causa da invasão
Holandesa em Pernambuco,
Tiveram eles então
Breve alívio, estancando
Aquela perseguição.
Mas logo os holandeses
Os perseguiram nas matas,
Por entre penhascos altos,
Rios e grandes cascatas,
Colecionando insucessos
Que sucederam as bravatas.
Ganga Zumba era forte
E homem muito valente;
Queria negociar
Pois era inteligente,
Mas foi pelos portugueses
Traído covardemente.
Após a morte de Ganga,
A liderança passou
Para o sobrinho Zumbi,
Que logo se destacou
Pelos feitos corajosos
E táticas que usou.
Tinha estratégia de guerra
E grande habilidade,
Se apoderando de armas,
Mostrando agilidade;
Armando os quilombolas
Com muita propriedade.
A cidade Subupira
Era o quartel-general,
Rechaçando os ataques
De forma muito letal,
Deixando impressionada
A Corte de Portugal.
A Coroa portuguesa
Pediu séria providência
Para travar uma guerra
Contra aquela insurgência,
Mas os quilombolas tinham
De guerra muita ciência.
Para dar cabo dos negro,s
Chamaram um bandeirante
Experiente e brutal,
Guerreiro repugnante;
E Domingos Jorge Velho
Era cruel o bastante.
Aquela grande cidade
De trinta mil habitantes,
Macaco, a capital,
O centro dos retirantes,
Lutou então bravamente
Contra aqueles visitantes.
Só no fim daquele século,
Após tanta frustração,
O bandeirante selvagem,
Na sua perseguição,
Saiu-se vitorioso
Com a queda da nação.
Foi em 20 de novembro,
Datado de mil seiscentos
E noventa e cinco que
Caçado por regimentos
Zumbi teve a sua morte
Espalhada pelos ventos.
Após a morte, Zumbi
Teve a cabeça cortada,
Levada para Recife,
Sendo na praça mostrada,
Silenciosa pensando:
"Aqui ninguém vale nada".
Até o século XVIII
Podia encontrar sinal
De quilombolas no centro
Ou mesmo no litoral,
Sobrevivendo de ataques
Ao povoado local.
Os quilombolas deixaram
Para esta grande nação
Uma semente de força,
Também de elucidação,
De valentia e bravura,
Clamando libertação.
Superado pelo tempo,
Ensinando muito mal,
Fabricando mil diplomas
Para entupir hospital,
O doutor da faculdade
Botou, com toda maldade,
A culpa no berimbau.
Disse o doutor Natalino
Que o baiano é um mocó,
Sem coragem e inteligência,
Preguiçoso de dar dó,
Só liga pra carnaval
E só toca berimbau
Porque tem uma corda só.
O sujeito ignorante
Não conhece o berimbau,
Que atravessou o mundo
Com toda a força ancestral.
Na fronteira da emoção,
Traz da África a percussão
Da diáspora cultural.
Nem Baden Powel resistiu
À percussão milenar,
Uma corda a encantar seis
Na tristeza camará
De Salvador da Bahia.
Quem toca e canta poesia
Na dança sabe lutar.
O doutor, se estudou,
Na certa não aprendeu nada:
Diz que o som do Olodum
Não passa de uma zoada
E a cultura baiana
É uma penca de bananas,
Primitiva e atrasada.
Jimmy Cliffi, Michael Jackson,
Paul Simon e o escambau
Se renderam ao Olodum
Com seu toque genial,
Que nasceu no Pelourinho
E hoje abre caminho
No cenário mundial.
O baiano é primitivo?
Veja só o resultado:
Ruy foi o Águia de Haia;
Castro Alves, verso-alado
De poeta condoreiro,
E gente do mundo inteiro
Se curvou a Jorge Amado.
Bethânea, Caetano e Gil,
Armandinho, Dodô e Osmar,
Gal Costa, Morais Moreira,
Batatinha a encantar
Caymmi,João, Bossa Nova,
Novos Baianos são prova
Da grandeza do lugar.
Glauber, no Cinema Novo;
Gregório, velha poesia;
Gordurinha, no rojão;
Milton, na Geografia;
Anísio, na Educação;
Dias Gomes, na encenação;
João Ubaldo e Adonias.
Menestrel da cantoria
Temos o mestre Elomar,
Xangai, Wilson Aragão,
Bule-Bule a improvisar,
Roberto Mendes viola
A chula - semba de Angola,
Nosso samba de além-mar.
Se eu fosse citar todos
Que merecem citação,
Faria um livro de nomes
Tão grande é a relação.
Desculpe, Afrânio Peixoto,
Esse doutor é um roto
Procurando promoção!
Com vergonha do que fez:
Insultar toda a Nação,
O tal doutor Natalino
Pediu exoneração
E não encontra ninguém,
Nem um nazista do além,
Para tomar a lição.
O baiano é pirracento,
Mas paga com bem o mal:
Dá uma chance a Natalino
Lá no Mercado Central
De ganhar alguns trocados
Segurando o pau dobrado
Da corda do berimbau.
Autoria: Miguezim de Princesa
Disponível em http://recantodasletras.uol.com.br/cordel/1006603