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Este Blog foi criado com intuito de tornar acessível a um maior número possível de pessoas,a troca de experiêncais e a divulgação do que temos de melhor na cultura da Região Sisaleira,tornando o meio virtual um local de interatividade.Neste blog,uma equipe de quatro alunos do curso de Geografia da Uneb/Campus XI estarão postando fotos,artigos,relatos,entrevistas,mensagens, poemas,entre outras formas de expressão cultural. Compõe esta equipe os seguintes discentes:Angelita Bispo,Crisângela Gardênia,Maria Aparecida Brito e Mariana Martins.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Diversidade étnico-racial e Educação no contexto brasileiro: algumas reflexões

O Brasil se destaca como uma das maiores sociedade multirraciais do mundo e abriga um número relevante de descentes de africanos distribuídos em seu território. Essa distribuição demográfica ético-racial é passível de diferentes interpretações, uma delas é a realizada pelo Movimento Negro e por um grupo de intelectuais que estudam as questões raciais no país. Do ponto de vista étnico-racial 44,6 % da população brasileira apresenta ascendência africana que se expressa na cultura, na corporeidade, e/ou na construção de sua identidade.

È nesse contexto histórico, político, cultural e social que os negros(as) do Brasil constroem suas identidades, e dentre elas a identidade negra. Desse modo, aos poucos os contornos de nossa identidade são estabelecidos pela diferença e pelo trato social, cultural, histórico e político que estas recebem durante o percurso na sociedade.

As identidades negras são marcadas por um contexto peculiar que advém de séculos de escravidão, pela colonização e dominação de grupos sociais e étnicos-racais específicos, pela resistência negra à escravidão através de um processo tenso e "negociado" da abolição. A partir da década de 80, assistimos uma nova forma de atuação política dos negros e negras brasileiros. Passando a atuar ativamente por meio dos movimentos sociais, sobretudo os de caráter identitário trazendo novas formas de atuação e reivindicação.

O Movimento negro reivindica que a questão do negro deveria ser compreendida como uma forma de opressão e exploração estruturante das relações sociais e econômicas brasileiras, acirradas pelo capitalismo e pela desigualdade social. Atualmente o Movimento Negro passa a focalizar a denúncia da postura de neutralidade do Estado frente a desigualdade racial reivindicando-lhes a doação de políticas de ação afirmativa. Essa trajetória histórica e política do Movimento Negro se desenvolve imersa nas várias mudanças vividas pela sociedade brasileira ao longo dos últimos anos e se da em articulação com as transformações de ordem mundial, o acirramento da globalização capitalista e a construção das lutas contra-hegemonicas.

Dentre os diversos discursos que permeiam a sociedade a respeito do negro, é o mito da democracia racial , ideologia que parte das relações harmoniosas entre os grupos étnico- raciais omitindo e desviando o foco da profunda desigualdade racial existente no nosso país e dos impactos do racismo na vida dos negros e negras brasileiros. Desviando o foco ainda das situações cotidianas de humilhação e racismo vivido por boa parte da população e pela exclusão dessa população na educação básica, saúde, acesso a terra, a trabalho, a lazer e a inserção na universidade. Todavia, mesmo quando um negro consegue uma ascensão social, esses não deixam de viver situações de racismo e de serem tratados com desconfiança e incômodo. Os negros e negras brasileiras lutam contra esses processos ideológicos, políticos, culturais e sociais de cunho racista impregnado no imaginário e nas práticas sociais. Acredita-se que a superação do racismo da desigualdade racial possibilitará transformações éticas e solidárias para toda a sociedade e permitirá o efetivo exercício da cidadania, questionando assim o mito da democracia racial. Porém para tais feitos aconteçam é necessário à construção de oportunidades iguais para negros e brancos que possibilitem de modo igualitário e cidadão a diferença entre as 'raças' e extrapole o plano de discurso: 'politicamente correto'.

O Movimento Negro tem cobrado um posicionamento ético e responsável da escola, entendida como direito social e como uma das instituições responsáveis pelo processo de formação humana, que a mesma se efetiva ainda como um espaço do direito à diversidade e a diferente. "A escola, sobretudo a pública deverá inserir a questão racial no seu projeto político – pedagógico, toma-la como eixo das práticas pedagógicas e articula-las nas discussões que permeiam o currículo escolar." (SANTOS, 1996)

A escola brasileira de fato é um direito social de todos, onde precisa conhecer e reconhecer as diferenças dos sujeitos que fazem a escola. É responsável em desenvolver projetos eficazes de combate ao racismo e de superação das desigualdades raciais. A partir de então várias iniciativas de formação de professores para a diversidade étnico-racial vêm sendo realizadas no Brasil. Entretanto os educadores ainda se encontram em uma grande insegurança diante do trato pedagógico da diversidade étnico-racial. A exemplo de iniciativas do Ministério da Educação temos a lei 10.639/03, que se encontra nos cursos de formação de professores como suporte para um olhar sobre as questões dos negros no Brasil. A escola pública e privada são convocadas para realizarem uma revisão de posturas, valores, conhecimento e currículo na perspectiva étnico-racial. É somente pela força da lei 10.639/03,que a questão racial começa a ser pedagógica e politicamente assumida pelo estado, pela escola, pelos currículos e pelos processos de formação, ainda com muita resistência.

Não há como negar o protagonismo do Movimento Negro brasileiro nesse percurso. Esse por sua vez, pode ser melhor compreendido como um novo sujeito coletivo e político. Um coletividade assim, que elabora identidades e se organizam práticas através das quais defendem seus interesses, constroem identidades marcadas por interações e processos de reconhecimentos recíprocos. Possibilitando aos indivíduos reconhecerem-se nesses novos significados, o Movimento Negro buscou a chave na história para compreender a realidade do povo negro no Brasil

Assim há uma necessidade de negar a história oficial e de contribuir para a construção de uma nova interpretação da trajetória do negro no Brasil. O Movimento negro é, portanto fruto de uma "negatividade histórica", de buscar que esta mesma história seja contada como de fato aconteceu.

A lei 10.639/03 e suas diretrizes podem ser consideradas como parte do projeto educativo emancipatório do Movimento Negro em prol de uma educação anti-racista e que reconheça e respeite a diversidade. Diante de tais desafios os educadores e educadoras brasileiros são convocados a construir novas posturas e práticas pedagógicas e sociais. Eles, portanto, são chamados a construir uma pedagogia da diversidade.

Baseado no texto Diversidade étnico-racial e Educação no contexto brasileiro: algumas reflexões, de Nilma Lino Gomes,

REFERÊNCIA: GOMES, Nilma Lino. Um olhar além das fronteiras: educação e relações raciais. Autêntica. Belo Horizonte, 2007.

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